Sempre que retorno à inanição, depois de uma temporada em trânsito, percebo como é bom estar em movimento, pulsando. É instantâneo, assim que me encontro parado, a saudade do movimento toma conta e sinto que é por isso que estou vivo. Confesso que apesar dessa saudade, às vezes é difícil sair da inércia quando parado, e é por isso que me entristece tanto uma marina lotada de barcos, alguns com anos ali, sentido no máximo aquele movimento de vai e vem sonolento da maré. Essas embarcações tem o que eu queria, mas não utilizam, um propulsor. Mecanismo que poderia levá-los ao redor do mundo e colecionar as histórias mais incríveis. Mas por tanto tempo inativo, foi tomado de ferrugem e algas, sem impulsionar nada a lugar algum. Se quer que algo morra, condene-o ao estático.

Produzida em fine art Hahnemüle Photo Matt Fibre 200g/m2, pintado a óleo\n por Kaio Fialho para o calendário de 2023 com o tema “Tudo que poderia \nser ou ter sido”.